Das coisas que nos ateiam
fogo:
o som do sexo
os sons do corpo
o som do gozo
Como música ao instinto
difícil ouvir e não
querer entrar
no ritmo
Nem toda rede
o ajuda a pescar
Nem todo peixe
consegue fisgar
Nem sempre o vento
faz a vela inflar
Nem todo dia
o sol vai brilhar
e aquela mulher
que fez chorar
correu pela areia
e sumiu pelo mar
das coisas que unem um casal
o amor é o seu maior abrigo
nem sempre ele será carnal
mas sempre será amigo
esse lugar imaginário
chamado coração
que bate, às vezes erra
pula pela garganta
ou desce até o porão
entre o amor e o ódio
alguma dor carrega
pulsa no peito
desanda, emperra
conserta
e segue batendo
com maestria
por mais uma breve
alegria
Tempos frios
apático clima
me sobra saudades
me falta poesia
Num dia qualquer de maio
há 6 anos atrás
no passeio público, na praça
banco, árvores, flor lilás
quele beijo que jogou na minha boca
aquele beijo... Algo a mais
aconteceu e acontece
o tempo passa e a gente não esquece
coleciona alegrias, vários sentimentos
nossa história juntos cresce
fica na memória do corpo, dos lugares
de outras pessoas que parte nos faz
o passeio público, a praça
pássaros
banco, árvores, flor lilás
nada mais foi igual
depois de 6 anos atrás
tem ruído em nossa comunicação
coisas do convívio
e entre o ouvido e o coração
a coisa que duvido
é que não tenha solução
A princesa é trabalhadeira
e sonha em ser milionária
Ganhar na loto, no bingo da feira
ou qualquer coisa que o valha
Mas acabou amarrando o burro
longe do dinheiro, em pobre freguesia
Trabalhar, só daqui até o futuro
com o presente cheio de poesia
Acordo com a sua madrugada
desperto de um estado profundo
Um breve cochilo e se faz alvorada
logo é hora de enfrentar o mundo
Ao trabalho, bocejo pelo caminho
mas é melhor passar o dia mal acordado
e na noite escura estar acompanhado
do que dormir e sonhar sozinho
Às vezes escrevo versos raros
tão raros que os guardo para ti
Versos afeitos aos teus ardorosos
poemas, os mais cálidos que já li
Teço, de raro em raro verso
mesmo com vocabulário parco
uma ode que a ti com eles faço
fulgor sincero do meu peito emerso
E por essas linhas mal traçadas
dois tercetos duas quadras
rogo à su'alma de bela poetiza
Nossas vidas em cosmos separadas
mas por afinidade outrora unidas
se aproximam agora por essa poesia
O dedo na carne mergulha
como ave faminta que caça
Mergulho profundo na fenda
matando a fome que mata
Despida na cama ela vibra
terremoto em alta escala
Desejo de gozo intenso
do corpo agora em repouso
No meu coração
nada imóvel
há uma morada
onde você fez residência
Sem mala nem cuia
nem roupa do corpo
entrou sem pedir licença
e alterou a cadência
Pulsando em outro ritmo
a outros inquilinos, fechado
agora um domicílio íntimo
peito muito bem ocupado
É um tempo muito curto
da chama que arde por dentro
epicentro pirofórico frágil
vela acesa ao vento
Mesmo quando ela se apaga
ficam as marcas de sua saga
meio século de puro exemplo
eternos entalhes feitos nas pedras
erguidas entorno do templo
* Em memória de meu primo Walter. RIP
Deusa de Vênus
amor na imensidão:
nus no mesmo espaço
delta a dois; subversão
em forma de coração
Astros noturnos
corpos adornados
com anéis roubados
de Saturno
Tatuado no coração
grafado no RG
teu nome está sempre comigo
nada é maior que você
Nascemos no mesmo dia
primogênito tem esse prazer
Herdeiro de tantos trejeitos
um cordão que nunca vai se romper
Mas o dia de hoje é só teu
as orquídeas se abrirão pra te ver
os pássaros cantarão, quimeras
todos desejando muitas primaveras
Hoje acordei e fiz o café
do jeito que te agrada o paladar
Apesar de tua ausência
aquela essência de nós
se espalhou pelo ar
No calor do banheiro, olho o espelho
mal vejo a mim mesmo:
o sorriso escondido, até distorcido
embaçado semblante, distante
num carinho perdido
A casa vazia, a xícara na pia
com pouco ainda do teu gosto
A marca da boca na borda da louça
um fundo de cor na memória
da nossa história, aos goles escrita
Quanto tudo passar e você retornar
estaremos aqui: a cama, a mesa
a luz da certeza, de um café
pra nós dois