Tribos indígenas já foram “povos” e, assim como favelados, viraram “comunidades”;
O negro é “afrodescendente” (o mestiço nem existe mais);
O trabalhador virou “colaborador”, e o biscateiro, que já foi “profissional liberal”, agora é o “empreendedor”;
O idoso vive a “melhor idade”;
O mendigo agora é uma “pessoa em situação de rua”;
Transformaram o pobre na “nova classe c”;
Gays e lésbicas eram “GLS”, agora diluíram na sigla “LGBTQIA+”;
O miserável, que vive “abaixo da linha da pobreza”, passou a ter “insegurança alimentar”;
Até o cão, o cachorro, passando por “doguinho”, virou “pet”;
Tudo muda…
Mas o que nunca muda é a realidade, que continua sendo uma grande e imensa “matéria fecal”.
Uma mero ânus tatuado
para descer até o chão
Uma lei que ninguém conhece a fundo
para incendiar a discussão
Um cowboy alienado que caiu do cavalo
e melou o “esquemão”
Agora todos sabem que o caipira
mama nas tetas do erário
na verba de saúde e educação
Falta agora a Justiça fazer força
mandar esfíncter a fora essa sujeira
laçar a quadrilha, botar na fogueira
antes da próxima farra de São João
a beleza pura
e analógica
é a que mata
minha sede
sua beleza suja
falsa
só passa no filtro
das redes
Cadastre-se na Rede
e acesse o mundo
a imensidão
O nome do pai
do filho
o nome do cão
Datas de nascimentos
letras e elementos
que servem à ocasião
Fique socialmente conectado
Atado a tantos amigos
que nunca se verão
E guarde a senha
a sete chaves
das portas e das janelas
que apontam à solidão
oculto que encanta
vulto que vira
vênus
sempre mais
nunca menos
até que o manto
cai
e vai
o encanto
religião internet
o culto oculto
dos seres pagãos
socialmente negados
renegados que mentem
para serem o que(?)
realmente são(?)
lembra do tempo que eu te seguia,
e era a forma mais fácil de saber o que fazia,
e você nem sabia?
o poema original:
lembra o tempo que você sentia,
e sentir era a forma mais sábia de saber,
e você nem sabia?
Alice Ruiz
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