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I
as águas de março
sem promessa de vida
não teve vacina
II
as flores murcham
no jardim do coveiro
bem-ou-mal-me-quer
III
mais um que se vai
negou a realidade
a morte não mente
I
Quarto de inverno
O calor está na cama
Roupas pelo chão
II
Noite de verão
Lua no espelho d’àgua
Mar de estrelas
III
Estações do ano
Na feira colorida
Florescem frutíferas
I
céu sem nuvens
o fundo da represa
ar na torneira
II
o vento forte
a árvore que cai
luz que se apaga
III
lagoa seca
tucanos bebericando
há vinte anos
IV
água cai do céu
asfalto impermeável
Clara boia
V
o céu cinza
a multidão que corre
edifício
VI
o sol a pino
multidão amontoada
espera no ponto
VII
a chuva forte
correria na praça
o banco vazio
VIII
fome de inverno
o sal sobre a mesa
mosca na sopa
IX
gramado verde
passe preciso, o gol
ver de amar, elo
X
chove lá fora
batem palmas no portão
melhor na cama
I
chuva de verão
casamento de espanhol
enclave de sol
II
chuva de verão
asfalto impermeável
a rã está morta
III
chuva de verão
a árvore cai morta
luz que se apaga
IV
chuva de verão
o ônibus lotado
vidro embaçado
V
chuva de verão
a gravata a forca
algodão molhado
VI
chuva de verão
batuque no telhado
chão de granizo
VII
chuva na estação
trem lento caramujo
todos verão
livro que cai
feito uma luva
leve me livra
Noites em claro
o que fazer no escuro
nós, em Sônia?
Sobre a fofoca:
VII
Fofoca voa
de boca para boca
até engasgar
VIII
falar e falar
falar só por falar e
morrer pelo bico
IX
Língua de cobra
que não para na toca
o gato come
IV
Nada tenho nessa
Nem terei na que virá
O jeito é viver
V
O rio corre
Nado contra a correnteza
Rio do rio
VI
O coração bate
O corpo corre atrás
A alma voa
I
O vento que sopra
Sopra sereno na brasa
Esfria a vida
II
Quem deixa com fome
A carne do corpo lasso
Desata os laços
III
O dedo anelar
Aceitou o desafio
Gira bambolê
pés ao alto
costas no [col]chão
grito contralto