heróis e assassinos
assassinos heróis
aproveitadores imundos
a ordem dos tanques
destrói o produto
o trauma não sai da carne
a dor tende a ser extrema
e a poesia na guerra
é ilusão de cinema
o resto é história…
a bravura dos que combatem
a dor de quem se desterra
desânimo, valentia
há quem acerta
há quem erra
só não há
poesia
na guerra
!
!
!
O palhaço guardou o nariz na gaveta
e espera um dia voltar a usá-la
Uma cambalhota, outra pirueta
seria bom reviver o passado
Mas a gaveta nunca mais se abrirá
triste e perdido ficou o bufão
O nariz vermelho já serviu ao circo
todo o resto foi mera ilusão
Estão lhe pedindo feijão
mas só oferece o fuzil
Do ferro ao chumbo, munição
grão aqui só o de projétil
A farda só enche a barriga
dos asseclas do capitão
Quem vencerá essa briga?
A fome, a miséria, a corrupção
Vários exércitos de indigentes
se formam pelos cantos da nação
A desigualdade assola a gente
não se vê o fim dessa conflagração
Somos todos patriotas
empunhamos o fuzil
atiraremos pelas costas
para a glória do Brasil
O golpe é a nossa marca
pela história já se viu
O capitão nós seguiremos
para a glória do Brasil
Muita grana no bornal
a fanfarra em tom febril
afunda a pátria iremos
para a glória do Brasil
Já não temos serventia
a sucata já ruiu
só nos resta a política
que se dane o Brasil
Sete de setembro
o dia da baderna
os cabeças de papel
marcharão da caserna
Darão tiros de canhão
num futuro obscuro
pra seguir o capitão
e seu bando chulo
Um passado delirante
que aqui nunca existiu
militares militantes
pasto amado, Brasil!
Nessa data tão festiva
dos desfiles de sucatas
será o dia da coroação
O início de uma dinastia
que já está em negociata
entre os piores da nação
Numa ação defectiva
encerrarão a democracia
e irão coroar o bufão
A nova pátria primitiva
“burrocrata” e caricata
se chamará Cudomundistão
Desfilam os tanques de guerra
no país do carnaval
São somente carros alegóricos
não fazem bem, talvez o mal
Na avenida colorida
muitas fardas e medalhas
de heróis sem batalhas
e glórias inventadas
Uma selva de espoletas
dessa tropa em desuso
ao capitão que foi expulso
e a outros tantos picaretas
A corrupção camuflada
por baixo do fardamento
quer o poder, quer o governo
A imagem antes imaculada
desbotou, foi-se com o tempo
A milícia legalizada
se infiltra e se engaja
a força armada
armação que nos engana
é a tropa dos laranjas
Toca a fanfarra
a marcha bufa
leite, picanha, propina, alfafa
e completa a farra
Rouba soldado
frauda o papel
quem não roubar direito
não sai mais do quartel
O quartel pegando fogo
a CPI deu um sinal
acorda, povo, acorda
“deu bandeira” o marginal
O golpe pelo golpe
presidente e militares
asseclas e seus pares
não têm o que oferecer:
sem reformas ou metas
projetos ou ideias
nem sabem o que fazer
Bandalheira que se anuncia
o único plano da milícia
é o poder pelo poder
mais nada...
É promoção, estão vendendo
olha a feira militar
quem quiser, tá baratinho
qualquer um pode comprar
tem general de quatro estrelas
de bacia, é pra acabar
oficiais e graduados
a fanfarra vai passar
E são tão obedientes
seguem o que o boçal falar
o que interessa é o dinheiro
o Brasil pode afundar
As estrelas sobre o ombro
não nos servem de nada
Atrás de sua imensa mesa
é só mais um burocrata
Nunca combateu em guerra
nem foi em missão de paz
As medalhas que carrega
não representam nada demais
Os generais em seus pijamas
uma tropa de sanguessugas
se esbaldam no dinheiro do povo
que é quem trabalha e não foge à luta
Cambaleante alvejado
Mais a frente cai o soldado
Ofegante, ensangüentado
Vendo a morte ao seu lado
Pensando, encurralado
“Só tenho a Deus como aliado”
O pobre rapaz, agoniado
Findou ali, deitado
Seu corpo, nunca encontrado
Deve ter sido amontoado
Junto com outros, e queimado
Ou apodreceu jogado
Seu enterro aconteceu
Mesmo sem o corpo teu
Honrarias, salvas, apogeu
Para o bravo que combateu
Depois o dia alvoreceu
E a história assim se deu
Do garoto que à guerra compareceu
E nunca soube por que morreu...
Só sua mãe não o esqueceu.