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Vidas Secas (1938)
Autor: Graciliano Ramos (1892 - 1953)
Na mesa nua, pratos com o mínimo de alimento; sem gosto.
O papagaio, estimado bicho, agora mudo, completa o sugo; almoço.
Na boca, seca poeira, sente-se pouco, ou único gosto; desgosto.
Ao pé o cão, magro, feio, sarnento, ruía um teco de osso.
O trabalho, na roça, chão rachado, tempos sem água; penoso.
O soldado, que representa o governo, desrespeitoso, num “zip” de lâmina lhe arranco as tripas, mas não vale esforço.
O caminho, longo, só seixos; tortuoso.
Assim é a vida em Vidas Secas.
02/02/09
Para ler
Dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, Linha de Passe surpreendeu a todos, público e críticos, com a indicação no festival de Cannes (2008) para melhor filme, e com a premiação de melhor interpretação feminina para Sandra Corveloni, que faz o papel de Cleusa no longa.
A estória se passa na cidade de São Paulo, a maior da América Latina que já chega a 19 milhões de habitantes, e mostra o drama da família de Creusa (Sandra Corveloni), empregada doméstica que, mesmo grávida, dá duro para manter na linha os quatro filhos. Denis (João Baldasserini), o irmão mais velho, e já pai, trabalha como motoboy para sustentar o filho; Dinho (José Geraldo Rodrigues), frentista de um posto de gasolina, busca na religião um apoio para fugir do passado obscuro; o obstinado Dário (Vinícius de Oliveira), prestes a atingir a maioridade, sonha em ser jogador de futebol profissional; Reginaldo (Kaique de Jesus Santos), o caçula, busca incessantemente encontrar o pai, que nunca conheceu.
O drama retrata a realidade de muitas famílias da periferia que dão duro para sobreviver na megalópole paulistana, onde as oportunidades estão cada vez mais escassas, mas que, sonhando com um futuro melhor, mantém uma chama de esperança acesa. Linha de Passe merece uma salva de palmas!
Assista: Linha de Passe (Brasil, 2008) - Direção de Walter Salles e Daniela Thomas
Filme exibido na 2° Cinemada de Publicidade & Propaganda - Unisant'anna.
Criado nos Estados Unidos no começo da década de 30, por Frank Foster, mas que foi posteriormente co-criado por Bob Kane e Bill Finger, BATMAN é uns dos super-heróis (e anti-heróis) mais conhecidos do mundo. Em 1986 foi lançado o HQ “Batman - “O cavaleiro das Trevas”, e fez tamanho sucesso que a Warner decidiu produzir o longa metragem Batman (EUA, 1989 – Direção de Tim Burton), que correspondeu ao sucesso anterior dos quadrinhos. De lá para cá o homem-morcego já deu as caras no cinema em mais cinco longas: Batman – O retorno (1992), Batman Eternamente (1995, direção de Joel Schumacher), Batman e Robin (1997), Batman Begins (2005, direção de Christopher Nolan) e Batman – O cavaleiro das trevas (2008).
Em Batman Begins o diretor mostra uma Gotham City totalmente degradada pela violência e corrupção, que em vários aspectos lembra a Nova York assolada pela depressão americana de 29, que, com certeza, inspirou o criador da personagem.
Bruce Wayne (Christian Bale) vive uma crise existencial, decorrida da culpa que sente pela morte de seus pais, assassinados durante um assalto ocorrido logo após, a pedido do pequeno Bruce, saírem de uma ópera. Já adulto sai então pelo mundo em busca de uma resposta para seus traumas e medos. É treinado por Henri Ducard (Liam Neeson) para integrar a liga criminosa internacional (Liga das Sombras, liderada por Ra’s Al Ghul), mas após um motim Wayne volta para Gotham, afim de fazer valer a justiça.
Michael Caine interpreta o bem-humorado Alfred pennyworth, seu mordomo e braço-direito.
Batman Begins foi bem recebido pela crítica e pelos milhares de fãs espalhados pelo mundo, pois essa versão ficou muito mais próxima das HQs, “concertando” os fiascos anteriores, dando um ar mais sombrio ao herói e a cidade de Gotham.
Assista: Batman Begins - EUA, 2005 - Direção de Christopher Nolan.
Fiascos anteriores: "Turma do Batman", um misto de Kiss com Village People. Realmente Begins salvou a pátria!
CLIQUE AQUI e faça o download duma Batsátira - Batmapramim & Cleitóris em: A reforma do Batmovel
Filme exibido na 2° Cinemada de Publicidade & Propaganda - Unisant'anna.
O gingante verde está de volta! O Incrível Hulk (EUA, 2008 – direção de Louis Leterrier), que estreou no Brasil em junho deste mesmo ano, traz, mais uma vez as telonas, a saga do Doutor Robert Bruce Benner, em busca da cura para sua anomalia. Edward Norton faz o papel do melancólico e frágil doutor Benner que vive refugiado na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Como todo e bom filme estrangeiro que retrata algo do Brasil, esse também contém erros absurdos. Acho que o mais grotesco deles é que os brasileiros, do Brasil que é mostrado, fala o bom e velho... Espanhol! Talvez exista alguma dificuldade em arrumar bons atores que falem português, não sei, mas nessas alturas da globalização, cometer um erro assim não dá, ainda mais quando se fala do “bricniano” gigante verde pela própria natureza. Algumas partes sem explicação logística, geográfica e geopolítica ficaram um pouco difíceis de serem digeridas; após ter-se transformado em Hulk, Bruce acorda no meio duma selva, ou floresta, subentendendo-se que ele ainda está no Rio, mas não, na verdade ele acorda na Guatemala. Na cena seguinte ele já está na América, na porta duma faculdade, donde sua amada Betty Ross (Liv Tyler) leciona. Ta certo, super-herói, super-pataquada! Não se pode esperar muito, nesse sentido, dum filme americano dirigido por um francês.
É impossível não compara-lo a filmagem do herói feita anteriormente (The Hulk, EUA, 2003 – direção de Ang Lee), que foi duramente criticada por sua animação gráfica ter ficado um tanto, digamos, ruim. Nessa nova versão, Hulk vem bem menos com cara de desenho animado, e bem mais agressivo.
Saudosas aparições aumentam o aspecto melancólico do filme: Lou Ferrigno, que na década de 70 aterrorizava as criançinhas interpretando o Hulk, no seriado televisivo de mesmo nome, faz uma ponta de segurança do laboratório. O ator Wilfred Bailey Bixby, que fazia o Dr. Benner nessa mesma série, também faz uma aparição, mas muito discreta; ele aparece no seriado Meu Marciano Favorito (da década de 60) enquanto Benner assiste a TV, no seu barraco. Até a clássica cena que finalizava cada capítulo do seriado foi lembrada: Bruce caminhando pela rua, no canto do vídeo, meio desfocado, abandonado, pensativo, triste, só... Tocando uma música quase fúnebre.
O Incrível Hulk foi criado em 1962 e, no meio de todas essas tentativas de recriá-lo fora dos quadrinhos, a alguém que está rindo a toa e, não, não é o fã número um (esse deve estar chorando), é Stan Lee, seu idealizador.
Assista: O Incrível Hulk - EUA, 2008 - Direção de Louis Leterrier.
Baixe os temas do seriado Hulk, da década de 70: Tema 1 - Tema 2
Mais um dia dos namorados. Tinha tudo para ser um dia normal, ou, pelo menos, somente com a violência rotineira de sempre. É, ela hoje faz parte do cotidiano, infelizmente. Bem, tudo normal, menos para quem pegou, no dia doze de junho de 2000, o ônibus 174 (Central – Gávea) no Rio de Janeiro. Em frente ao Parque Laje, no tão famoso bairro do Jardim Botânico, Sandro Barbosa do Nascimento, ex-menino de rua (ex porque ele cresceu e virou jovem de rua, e não porque sua condição havia mudado) rendeu o ônibus, e o que era para ser “somente” um assalto, virou o famoso caso do Ônibus 174. Foram quatro horas de terror para os reféns, que ficaram na mira de Sandro, e quatro horas de um “Show de horrores”, regado com muito ibope, transmitido ao vivo em rede nacional. O caso acabou de forma mais que trágica. Duas mortes: uma professora, morta pela, mais que nítida, despreparada polícia. E Sandro, um jovem (ou melhor, mais um jovem) brasileiro miserável, morto pelo mesmo assassino: o despreparo, o descaso. Sandro: assaltante do ônibus, mas sem roubar nada; roubado. Assassino sem morte; morto.
No documentário, José Padilha disseca a vida de Sandro, desde sua infância, marcada pelo assassinato da mãe, as prisões por roubo, a chacina da Candelária, familiares, até o seu conturbado último dia. Fica nítido como a violência cresce de forma espiral, um círculo vicioso sem interrupção. O caso ficou muito marcado também pelo despreparo da polícia, que não tomou nenhuma atitude, conforme seus manuais, e pela omissão das autoridades políticas, que não queriam que um atirador explodisse a cabeça do assaltante diante das câmeras. Erraram. O fim foi bem pior. O interesse político reinou mais uma vez. Ninguém quer que sua gestão fique manchada com sangue, produzido por um disparo da polícia, espirrado da cabeça de um marginal. E tudo transmitido via satélite. Isso explica os depoimentos indignados dos policiais, já que treinam muito, mas na hora em que a teoria tem que ser aplicada, a omissão dos superiores os impedem. Dinheiro público gasto para nada. Talvez isso tenha inspirado o diretor a fazer o filme Tropa de Elite (2007).
Para quem quer reconstituir alguma história, assistir ao Ônibus 174 é fundamental. José Padilha, com olhar apurado, mostra como nasce, cresce e morre a violência, ajudada pelo despreparo policial e a negligência das autoridades políticas.
Assista: Ônibus 174 (Brasil, 2002) – Direção de José Padilha.
George Lopez é professor de uma pequena escola na região rural da França, na pequena cidade de Auvergne, onde leciona para uma turma de 13 alunos, de quatro a treze anos, escola de uma turma só. Muito parecida (guardadas suas devidas proporções, claro!) as escolas no interior da região norte/nordeste do Brasil.
Com a câmera parada e sem nenhuma interferência no dia-a-dia da escola, o diretor Nicolas Philibert capta toda a relação humana que se constrói durante o ano letivo. Aos cinqüenta e cinco anos, trinta e cinco deles de profissão, o professor George Lopez, que mantém certa rigidez na sala, conquista o respeito de seus alunos falando de uma forma direta e clara, e sempre sendo atencioso com sua turma.
O documentário levanta a questão do relacionamento na escola, dos professores com os alunos, e entre alunos. É uma realidade bem diferente, já que se trata de uma escola de uma cidade pequena, mas mesmo assim, deixando esse fato de lado, onde foi parar o relacionamento afetivo entre professor e aluno? Ser e Ter é calmo, tranquilo, bucólico e, às vezes, invejável. É um cotidiano simples, distante dos das grandes cidades. É um documentário que mostra que há sim possibilidade de algo melhor, com relação à forma de aplicação do ensino.
A curiosidade das crianças é uma atração a parte. Mesmo com a presença constante da câmera, o documentário não perde sua naturalidade.
Um outro valor apresentado foi à ajuda dos familiares nos deveres escolares. Hoje, devido a essa pressa constante (que nunca acaba e, pior, nunca chega a lugar algum) a família é cada vez mais uma unidade diluída. Todos trabalham, e quando chegam em casa, cada um tem seu canto. O dever-de-casa do filho não é mais feito com o auxílio dos pais, e sim somente com o dos professores. É pena, pois não há tantas (estou sendo otimista) escolas como a retratada no documentário.
Não consegui criar uma relação direta do nome com o filme. Talvez algo entre Ser aquilo e Ter aquilo? Não sei. Mas o olhar final do professor, quando chegou o final do período escolar, em que os alunos saem de férias, foi o que me chamou a atenção: se Sou professor, quando Tenho alunos, o que Sou, quando não os Tenho? Um olhar perdido...
Assista: Ser e Ter (França, 2007) – Direção de Nicolas Philibert
Uma pequena explicação do “por que” que este blog chama-se MUNDO ID.
O fundador da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), diplomado em medicina, iniciou sua carreira profissional como neurologista clínico em Viena. Mudou-se para a Fraça, onde iniciou seus estudos sobre as manifestações histéricas, com o médico clínico Jean-Martin Charcot. Voltou a Viena onde abriu uma clínica particular para cura de doenças nervosas, e elaborou sua teoria, hostilizada de início, mas depois reconhecida como válida. A psicanálise tornou-se um sistema para interpretar todos os aspectos da personalidade humana.
Segundo Freud, toda a ação humana tem sua origem de forma inconsciente. Lapsos de esquecimentos e incidentes nunca são casuais, são determinados por motivos inconscientes e fogem ao nosso controle racional (ato falho*). Nossa parte consciente pode ser comparada a ponta de um iceberg, e o inconsciente sua parte submersa, e essa última é constituída por pulsões sexuais (Eros) e agressivas (Thánatos). No início da vida predomina o princípio de prazer, pois a criança procura satisfazer todos os seus impulsos. Logo em seguida ela será influenciada pelo ambiente e pelos adultos genitores, que estabelecerão regras as quais ele deverá se adequar. Nasce ai o princípio de realidade. As normas (sociais) que determinam o que é certo e errado começarão a fazer parte do superego, fazendo a criança sentir-se culpada, quando desobedece alguma regra.
Freud dividiu a psique em:
Ego: parte consciente, que toma as decisões; parte racional.
Superego: parte dela é consciente e parte outra inconsciente; contém as normas e regras transmitidas na educação.
Inconsciente ou ID: é a parte desconhecida de cada um de nós; compreende os conteúdos sexuais, agressivos, emocionais e os sentimentos considerados negativos pela nossa cultura.
O inconsciente pode ser estudado, segundo Freud, pela análise dos sonhos**, por meio de associações livres. Alguém que, por exemplo, sonhou com uma montanha deve dizer tudo o que vem na mente sobre essa cena, sem exercer nenhum controle racional. Para ele o sonho é a expressão de uma necessidade, um desejo insatisfeito que emerge do nosso inconsciente, que tem seu conteúdo implícito, e o que recordamos é o conteúdo manifesto, nem sempre compreensível.
O MUNDO ID é uma manifestação consciente do inconsciente, através de palavras, imagens, músicas, livros, textos, filmes, vídeos, pictóricos, rascunhos, desenhos, documentos e afins, e que tem a intenção de discutir os mais variados assuntos de maneira direta ou não.
Baixe para ler:
*A psicopatologia da vida cotidiana – Sigmund Freud
**A interpretação dos sonhos – Sigmund Freud
Assista: Freud - Além da alma (EUA, 1962) Direção de John Huston
Referência Bibliográfica:
STROCCHI, Maria Cristina. Psicologia da Comunicação. Manual para o estudo da linguagem publicitária e das técnicas de vendas. Paulus. São Paulo. Cap 06. Pg 59-71.
Stan Lee, hoje com oitenta e cinco anos, nunca imaginaria que sua personagem, o Iron Man (Homem de Ferro), que foi criado em 1963, seria a estrela principal de um longa metragem. Até que demorou para o super-herói voar dos quadrinhos para as grandes telas cinematográficas, já que o mundo Marvel nos cinemas aumenta cada vez mais.
Robert Downey Jr. faz o papel do mega cientista e playboy Tony Stark, um dos homens mais inteligentes do mundo, e que sofre uma crise existencial logo após ser sequestrado por terroristas paquistaneses (que coincidência: terroristas paquistaneses num filme americano!) e ver que as armas que desenvolve, em nome da “segurança mundial”, são vendidas aos principais inimigos norte-americanos. É forçado pelos sequestradores a desenvolver um míssel de grande potência, mas como é muito, mas muito inteligente, fez o que seria o protótipo de sua grande invenção: a armadura do Homem de Ferro! Ohohohoh! Nem o Macgyver conseguiria supera-lo.
Stark depois descobre que foi traído, que as armas eram vendidas para os terroristas pelo seu melhor amigo (clichesasso!). Mas, sabe como é: ele voltou, fez uma putz armadura, voou de Nova York até o Paquistão (homem de ferro, espectador de ferro, culhão de aço!) e venceu todos os caras maus. Nada de novo.
Com certeza, o professor que está lendo este relatório deve estar se perguntando: esse aluno ta é de brincadeira comigo? Não, não estou.
O que realmente chamou a atenção no filme foi o merchandising apresentado durante ele. Geralmente eles são embutidos de maneira discreta, mas nesse filme... Vamos para o primeiro de três, os mais descarados:
Tony está num Jeep, em algum lugar num deserto, com mais três soldados americanos. Um deles pede para tirar uma foto ao seu lado. Tony diz: “tudo bem, pode tirar... Depois você coloca no MY SPASCE”. Até ai tudo bem, esse foi o primeiro, ainda da para relevar.
O segundo: Tony recebe um telefonema, nesse mesmo deserto sei lá onde. Pega o seu ultra-celular que tem uma tela onde aparece a cara de seu interlocutor (caramba, quanta tecnologia) e, claro, a marca LG. Agora preparense!
O terceiro, e pior deles: Depois de ficar três meses nas mãos dos terroristas, Tony é resgatado (depois de uma espetacular fuga). Seus assessores querem que ele vá urgente ao hospital mais próximo. Tony se nega a ir: “Não! Antes de qualquer coisa quero um cheese-burguer!” (mais americano impossível!). Seu pedido é atendido, e recebe em mãos um pacote do BURGUER KING. O mais curioso é que ele come dois chesse-burgueres, sendo que o primeiro tem o logo do BURGUER KING, já o segundo não, tem somente uma mancha vermelha no papel que o embrulha.
É Tony, da próxima vez que fabricar uma armadura, fugir de forma espetacular de sequestradores paquistaneses, e quiser comer um hambúrguer a qualquer custo, pede para o Ronald, talvez ele te pague dois.
Puta enlatado americano! E não estou me referindo ao Sr. Stark. Mas, pelo menos, a trilha sonora é puro rock'n'roll.
Para baixar:
Assista: Iron Man (E.U.A. - 2008) - Direção de Jon Favreau