Lá vai ele, o brasileiro
com seu livreto na mão
largando a ciência no bueiro
crendo ter fé na sua oração
Pandemia é coisa do estrangeiro
“a gente não pega isso aqui não”
Nadando no esgoto, meio ao lameiro
bichos escrotos “garantem” imunização
Na quarentena fez esperneio
“a economia não pode parar não!”
É a saudade de bater um pandeiro
apertado em meio à multidão
“Mas como ganharemos (mais) dinheiro?
Voltem ao trabalho!”, lhe disse o patrão
“Morrerá somente meio milheiro
e qualquer coisa, fujo daqui de avião”
"Orientações da OMS? Sou 'corneteiro'!
Comunistas, aqui nunca passarão!”
Quem sabe arrume emprego de coveiro?
O mercado muda conforme a ocasião
Fome, ele passa o ano inteiro
só agora isso virou preocupação
Oportunismo, demagogia, “marqueteiro”
cada hora aparece um com a “solução”
No embate político, está no meio
de um lado o civil, do outro o capitão
Independente do voto, ele está alheio
é o que mais sofrerá com a infecção
Parece que ele não percebe o entrevero:
doença, morte, dor, falta de consideração
A desgraça anunciada pelo jornaleiro
"teremos que usar os trens como rabecão"
Ricos ou pobres, todos são hospedeiros
os segundos são os que mais sofrerão
Segue a vida na esperança, o brasileiro
sem muita consciência da atual situação