me deita em teu colo leito
e me dá o peito...
eu, homem feito
criança que não se cansa
mama a ama
criança que não vê defeito
me dá o peito, encosta
e toma meu leite em resposta
entre beijos e gemidos
carinhos e xingos
o que guardo aos pés
dos ouvidos é
teu sussurro...
um vento que sopra
na noite longa
me dizendo como ela é
gostosa
tua boca quente
me inflama
me lava
me sobe a chama
abraços em brasas
teu corpo chama
meu interior que incendeia
nós em fogo
você rosa orvalhada
dilatada
ante minhas pupilas
dilatadas
vibrante minha vontade
dilatada
deseja
que o tempo se dilate
diante do deleite
que ninguém nos delate
Entre beijinhos e suspiros
o mel do vão de suas pernas
é meu doce preferido
Brigadeiros não entram
em nossa guerra
de corpos estendidos
sobre o outro
sobre a cama
cada pedacinho teu tem
um tom uma tez
que junto
um por vez
pra formar um desejo
junto tudo isso e vejo
que preciso do que fez
alimenta meu versejo
fluidez que se faz
entre nós
Cristo dependurado na cruz entre
teus seios
sagrados
Meus olhos vidrados
em vigília
ao pingente profano
As noites se fazem maior
no abrir de suas pernas
Céu vermelho carne
da boca de baixo lábio
estrelado grelo que brilha
Um cometa passa:
gemido que rasga meu silêncio...
Grafa sua boca em meu peito
no leito
feito fera que fere a caça
faça de novo
faça
marca meu corpo torpe
em vermelho
batom no espelho
que escreve um destino
Tudo bem se seremos
nossas fantasias
que ao apagar da luz
dos dias
acontecem
Diária luz que ofusca a visão
Diária obrigação que ofusca o desejo
Dia diário que apaga a
noite
que acende
nossos olhos
Em pensamento reencontro a
ilusão
porque a
vida é
mesmo só
uma
impressão
Só o que sinto é
que pode ser
que seja
real
Beijá-la os
pés e percorrer
as pernas até
encontrá-la
úmida
entre teus
poucos pelos
Língua e grelo
gozo e gemidos
nós
dois unidos um
elo
Em teu brilho interno me deleito
e no leito entre panos peles apertos
fico perto de tocar no eterno
Leitoso explodo entre os lábios
e unidos ficamos
úmidos
Pernas
Pele
Prazer
Só pernas
elas
só
com elas
Delas faço
parte
arte
com elas faço
Nelas me
desfaço
não disfarço
olhos que querem
língua que quer
percorrer morrer
a sós aos pés das
pernas
Falo em tua boca um nome
sujo trêmulo proibido
que ressoa em teu corpo lago
como pedra que se atira
em espelho d’água
À margem do teu desejo
brinco animal puro
mergulho fundo
e solto meu cardume
na liberdade dos corpos
Minha felicidade mora
entre tuas pernas
compasso aberto que circunda
a lua em delírio
Constelação em gozo
de gâmetas cometas
que cruzam teu universo
em contração
Arregalo meus olhos
para ver os teus fecharem
e abro minha boca
para calá-la na tua
Despidos de ser
num atrito carnal e primitivo
voltamos a algum tipo de origem
Duas crianças que brincam
e constroem um corpo
massa de modelar
Exibida e brilhosa
Foi o brilho úmido
rosa
dos teus lábios
que me fez colocar
teu nome na lua
Como um cometa incandescente
passou e deixou
dentro de mim um universo
escuro
vazio
infinito
Os astros se revezam
no tempo
para um dia, quem sabe
se alinharem novamente
O cheiro doce e úmido da pele tua
nua que espera o toque quente
rente e íntimo que aumenta o ritmo
num átimo, do corpo, da pulsação
Fricção animal sobre a cama
dama da sociedade que revira puta
luta com o macho pelo prazer
fazê-lo acontecer no quarto
O ato final do filme, o gozo
no fosso dilatado e úmido
unido ao falo agora contraído
caído, satisfeito, em paz
Jazem os amantes na oca oca
e as bocas dividem num ataque
o acre gosto contido
nos fluídos, no que sobrou de nós
Vitória
virgem viva
ventre
veludo
Vulva vadia
vagina valente
veemente volumosa
viscosa voraz
vital
Vaca vulgar
víbora volúvel
vodka vagabunda
valsa vã
varão vassalo
vilã viciada
Vênus
verão vivo
vale verde
vista vasta
viagem voluptuosa
Vinho velho
verso
valor
Vida
A noite se abria no movimento de suas pernas
grossas pecaminosas infinitas
e o brilho morto das estrelas
emolduravam teu corpo lascivo e jovem
Que saudades que tenho da minha puta
Suas mãos corriam até mergulharem
lábios seios sexo
que me exibia liso e rosa carne
querendo quente pulsando
expulsando todo o frio e a derrota
Que saudades que tenho da minha puta
Suas coxas apertavam e espremiam
o gozo
que sobrava em seus olhos
que me mostrava entre os dedos
que lambia satisfeita
que alimentava o pouco que éramos
Que saudades que tenho da minha puta
Que sonora gemia fêmea
que linda contorcia-se fêmea
que satisfeita ofegava fêmea
e enchia meus escravos ouvidos
com sons úmidos de fêmea
Que saudades que tenho da minha puta
Era um mundo construído
e constituído de vontades animalescas
que faziam meu sangue pele correr
percorrer pelos meus rios e mares
até alagar o deserto e o homem que sou
Que saudades que tenho da minha puta
Mas no ordinário passar dos dias
nosso jogo não teve mais vitórias
monótonos sucumbimos ao banal
e derrotados
desistimos do poder lúdico
que proporcionávamos aos nossos restos
O solitário e sujo tempo venceu
Que saudades que tenho da minha puta
que partiu...