Num desgosto profundo
Que chegava amargar a boca
Cabisbaixo o moribundo
Levava sua vidinha oca
Enforcado no trabalho
Desgastada a relação
O Futuro é ilusão
“Nesse mundo sem perdão,
Quanto será que valho?”
Cansou-se do dia-a-dia
Sempre a mesma impressão
Casa, diploma, Mais Valia
Viagens, flores, pão
“Chega, chega disso
Já não quero compromisso
Com nada além do Além...”
Dirigiu-se até a ponte
E mirando o horizonte
Caminhou até a beira
Olhou o pé do monte
Impressionado com a ladeira
Pensou:
“Já que a morte vem
Um dia, pensado bem
Viver, que mal tem?”
Voltou à multidão
Pegou todo seu dinheiro
Mandou às favas o patrão
Abandonou a procissão
E hoje o nobre cavaleiro
Mora feliz no puteiro!