Quando o dia cai e o balcão encerra
A Lua se contrapõe ao negro do resto
Fazendo as Giraluas desabrocharem soltando perfumes, gestos e jeitos
Atraindo ceifeiros desnutridos com suas foices fálicas
Dando sentido a toda essa existência noturna e contratual
As Giraluas são das mais variadas cores
Usam poucas pétalas de seda e renda
Que são arrancadas num quem-me-quer qual-me-quer
Que perdura por todo o período da colheita
Édipos órfãos que nunca sugaram suas mães
Aos pés pintados e podados das Giraluas
Encontram leito, leite e deleite
Esparramam-se, explodem e derramam gametas infecundos
Sobre a terra que um dia há de engoli-los
Ao raiar o dia as Giraluas recolhem seus caules cansados
Cheios de espinhos pontiagudos e venenos que só contaminam a si
E sedem lugar aos vegetais carnívoros
Que se matam por um fio de sol
Sol esse que reordena as coisas do ser
Ilumina os olhos cansados dos agricultores
Aquece mortos, montes e solidão
E faz o Girassol abrir seus braços na manhã
Achando que o dia é belo