- Sai da frente, caramba! – apressado, pensou sobre uma senhora que atrapalhava a passagem na escada rolante. Sem paciência alguma, driblou a “vovó” e saiu da estação. Na Praça da Sé deu de cara com um senhor vendendo a sorte:
– Vaca, galo, porco; vaca, galo, porco, olha o bilhete premiado! – o rapaz se aproximou e perguntou.
- É, por favor, aonde fica o Poupa Tempo?
- É logo ali, só atravessar a rua. – apontou com a mão.
- Obrigado. – Saiu com passos rápidos.
Chegando, ficou irritado ao ver o número enorme de pessoas no local, e com o excesso de informações sinalizadas nas placas, que mais atrapalhavam do que ajudavam. Foi ao balcão de informações:
- É, com licença, bom dia.
- Bom dia! O que posso estar fazendo para ajudar o senhor? – disse a moça.
- Como faço para renovar minha habilitação, para onde me dirijo aqui?
- É muito fácil – disse a garota com um sorriso maravilhoso nos lábios - o senhor segue pelo corredor A, vai ao posto B e retira a senha, preenche o formulário C, pega a guia D e paga no banco E, depois faz o exame médico no posto F, volta para o posto A e aguarda a sua senha ser chamada no painel G referente ao balcão H. É muito rápido e simples.
- Ok! Vou lá então. Muito obrigado. - respondeu pensando: puta que pariu, é hoje que não saio daqui. - Foi até o primeiro local indicado.
Depois de todo o procedimento feito, sua senha foi chamada, no balcão entregou o comprovante para a atendente:
- Hummm... o senhor fez o CFC?
- CFC? Não. O que é isso?
- É o curso de formação de condutores. Todas as habilitações emitidas de 1999 para trás terão que estar fazendo o CFC.
- Caramba... E como faço isso.
- O senhor vai até o Detran, no Ibirapuera, e pode fazer lá, depois volta até aqui e retira a habilitação.
- Ir até o Detran! Isso vai levar mais de um dia, não tenho todo esse tempo disponível!
- Ou então... o senhor pode estar fazendo numa auto-escola, que tem logo ali, do outro lado da rua.
- Certo. Obrigado.
Saindo do Poupa Tempo viu um cara de chinelo e bermudão falando sobre exames relacionados à carteira de motorista:
- Opa grande, aonde é que faço esses exames?
- Opa chefia, é logo ali, leva meu cartão aqui ó, é rapidinho lá.
- E quanto custa esse “exame”?
- Cem conto dotô, é o mais barato aqui da região.
- Certo! Obrigado. - foi até o local indicado no cartão.
Chegando, estranhou o local, era nitidamente uma garagem adaptada para escritório, feito com algumas divisórias. Haviam três “salas”: na primeira, falou com o proprietário do negócio e acertou o pagamento. A segunda estava vazia. Na terceira fez o teste:
- O senhor, por favor, desliga o celular, esvazia os bolsos e coloca tudo sobre esta mesa. Depois sente-se nesta cadeira, com as mãos sobre os joelhos. A câmera estará lhe filmando o tempo todo. – o rapaz ficou assustado com tamanhos cuidados tomados por parte do contratado.
Após todo o ritual feito, o contratado respondeu às questões da prova para o contratante e disse – aguarde aqui uns 20mim, eu já volto. O rapaz obedeceu apreensivo, já que estava só, numa sala esquisita e sendo filmado. Pensou tudo quanto era desgraça – vão me pegar aqui, estou ferrado! Vou aparecer no Fantástico, Datena, no Ratinho... – até que o cara voltou:
- Pronto! Aqui está seu certificado.
- Já! Que bom! Rápido né.
- Rapidinho!
Correndo voltou para retirar o documento:
- Aqui está o certificado – a atendente conferiu, anexou ao resto da papelada e entregou a habilitação.
- Obrigado! – respondeu.
Ao sair, correndo, para voltar ao trabalho, já no horário da tarde, olhou para o documento e pensou – caramba, deveria ter trocado essa foto.
Esse texto foi feito para a oficina Escrevivendo, e teve como tema "corrupção".