Desde os anos 30 já havia uma preocupação, de parte da imprensa, com o volume excessivo no rádio de música estrangeira (boleros, tangos e jazz), limitando a música popular brasileira apenas a marchinhas de carnaval. Em 1954 é criada a Revista de Música Popular (Rio de Janeiro) com o propósito de exaltar a música nacional e seus criadores. Em sua coluna o jornalista Nestor de Holanda já fazia criticas ao aspecto comercial que o rádio vinha tomando. A revista estampava em sua primeira capa o músico e compositor Pixinguinha. (Napolitano; Wasserman, 2000: 173-174)
Na contra mão da opinião a jornalista Magdala da Gama de Oliveira (contemporânea à época), conhecida como Madame, faz duras criticas ao samba, tratando-o como música barata e sem nenhum valor, tentando descaracteriza-la como música brasileira. O samba pela sua origem popular sempre foi hostilizado pelos mais conservadores e eruditos, como a jornalista Madame. O governo de Getúlio Vargas, que tinha uma política populista, reconhecia junto ao Ministério da Educação, que sediava compositores eruditos como Villa-Lobos, os sambas e as marchinhas de carnaval como legítimos representantes da música brasileira. (Garcia; 2001)
Tempos depois, e depois de muitos movimentos musicais (Bossa Nova/1950, Jovem Guarda/1960, Tropicalismo/1970, Rock ’n’ Roll/1980, etc...) e principalmente com o fim da censura imposta pela ditadura militar, essa resistência conservadora e erudita foi rompida e a música feita no Brasil tornou-se preferência nacional. Uma reportagem feita pela revista Rolling Stone sobre as grandes gravadoras, mostra que, apesar da queda de quase 50% das vendas no mercado fonográfico brasileiro (entre 2000 e 2006), entre os cinco álbuns mais vendidos, quatro são de artistas nacionais. Alexandre Wesley diretor artístico da Warner declara que: Sempre a espaço para Maria Rita, O Rappa, Daniel, que são artistas populares e vendem discos. O publico que consome música internacional está migrando para o formato digital. Esse cenário de sucesso, apesar de bom, esconde o lado ruim da indústria fonográfica, o de apostar somente em nichos de mercado. Para Gustavo Ramos, diretor geral da Som Livre, os números colaboram para que os artistas vivam na mesmice, e declara: O chato disso é ver que o repertório brasileiro não está sendo renovado e cada vez mais as apostas são nas regravações. (Fuscaldo; 2007: 36-37) E não será fácil sair dessa mesmice, a Associação Brasileira de Produtores de Discos divulga uma estatística onde mostra que 76% das vendas de música (áudio e vídeo) no Brasil são de repertório nacional, sendo um dos mais altos índices do mundo de participação de repertório local. (ABPD, 2007)
Na contramão desse movimento mercadológico das grandes gravadoras, que tentam massificar a música, tratando-a como um produto na concepção mais pura que essa palavra possa ter, os artistas e as gravadoras independentes seguem firmes e fortes. Um grande exemplo disso é gravadora Trama, que publicou um manifesto divulgando suas intenções, crenças e propostas. O primeiro parágrafo demonstra bem essa aversão ao mercado pop pré-fabricado: A música é uma crônica de sua época. Os interesses comerciais não podem definir a música. A música é definida pelas pessoas e pelo seu tempo. (Bôscoli e Szajman, 2004)
Os movimentos musicais não se restringem ao eixo Rio X São Paulo. Paralelamente, em Fortaleza, surge no inicio dos anos 80 (mais ou menos 83) o movimento Hip Hop, com a idéia básica de, através da cultura e da arte, construir canais de aglutinação entre os jovens. (Diógenes, 1998: 121-123) Em Recife a cultura local é muito mais forte, e neste ano será comemorado 100 anos do Frevo. Uma cidade percursiva tendo como símbolo o tambor de Maracatu. Também tem um cenário independente muito variado, bandas como Devotos - Hard Core - e Faces do Subúrbio – RAP. (Guerra, 2007)
Conclusão:
Mesmo com as grandes gravadoras apostando sempre na mesma receita e descartando tudo o que não se encaixa em sua visão de mercado, os artistas independentes e as culturas locais sobrevivem a esse cenário. A super exposição de artistas pop cria a falsa impressão de que mais nada é produzido. Muito pelo contrario, as várias formas de mídias (fanzine e internet, por exemplo) faz com que todos tenham seu espaço, tenha seu público, ou seja, tenha sua independência.
Referências Bibliográficas:
ABPD – Associação Brasileira de Produtores de Discos – Estatísticas e Dados de Mercado. Disponível em: http://www.abpd.org.br/estatisticas_mercado_brasil.asp. Acesso em: 20 de setembro de 2007.
BOSCOLI, João Marcelo, SZAJMAN, André: Manifesto Trama. In: Trama Virtual. 2004. Disponível em: <http://trama.uol.com.br/portalv2/noticias/index.jsp?id=9385>. Acesso em 20 de setembro de 2007.
DIÓGENES, Gloria. Cartografias da cultura e da violência – ganges, galeras e o movimento Hip Hop. São Paulo: Annablume; 1998.
FUSCALDO, Christina. Metamorfose Ambulante. Rolling Stone, São Paulo, n° 12, p. 36 – 37, set. 2007.
GARCIA, Tânia da Costa. Madame Existe. Facom – Revista da Faculdade de Comunicação da Faap. São Paulo, n.9 – 2o semestre de 2001.
GUERRA, Flavia. A Nação Maracatu. O Estado de São Paulo, São Paulo, Suplementos, pág. C22, 18 de março de 2007. Disponível em <http://www.estado.com.br/suplementos/ali/2007/03/18/ali-1.93.19.20070318.15.1.xml>. Acesso em 20 de setembro de 2007.
NAPOLITANO, Marcos, WASSERMAN, Maria Clara. Desde que o samba é samba: a questão das origens no debate historiográfico sobre a música popular brasileira. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 20, n° 39, p. 173 – 174. 2000.
* Trabalho acadêmico realizado referente as aulas de metodologia cientifica.
Outubro/2007
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