Avistando as migalhas no chão, rasante pousa o pássaro. Gorjeai, saltita, belisca e come feliz o farelo seco misturado à poeira velha espalhada pelo vento eterno e sem parada. Ao som das buzinas dos carros, longe da era das carroças, canta infantil a pequena inata ave transformando a moribunda visão cotidiana numa brincadeira ao carrossel que gira colorido e sem fim. Ouvindo um canto em resposta, vê ao lado uma loja gigante que vende sonhos e garantias de amizade. Impressionado com a variada fauna contida em tão pouco espaço, aproxima-se do populoso viveiro e um local puxa papo:
- Oi, de onde você vem?
- Como assim? – Não entendeu a pergunta do amigo enjaulado, e sem querer saber muito sobre, respondeu - Se o lugar é um, então não existe “de onde”.
- Venha para cá, fique conosco. Aqui temos comida e água, não precisamos viver correndo atrás de nada!
- Quem não sabe o valor do farelo, condena a alma ao flagelo. – Respondeu.
Antes de afastar-se da loja, deu uma boa olhada em sua volta e pensou – o animal ama somente a si.
Foi até a poça, bebericou, gargarejou, sem titubeio, bateu assas e voou.