André Braga

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Quinta-feira, 28 de Maio de 2009

O teatro e a vida

"nós somos muito mais o que os outros acham que somos, do que aquilo que pensamos ser" 

Bruna Nehring

 

Dizem que a vida imita a arte... ou é a arte que imita a vida? Dizem... Ou será que vida e arte são coisas que se completam, contemplam-se e fundem-se, paralelas que passam a infinidade se cruzando, imitando-se? Vida, arte e teatro: sinônimos, não legalizados pela burocrática língua.

 

Acordo Eu, levanto filho, embarco passageiro, caminho transeunte, atravesso na faixa, sigo colaborador, atento estudante, pai, amigo, irmão, namorado, ator social que protagoniza e coadjuva ao mesmo tempo diversos papéis ao lado duma infinidade de outros. Genuflexório mudo atento me faz cristão. No carnaval, desfilando entre outros tantos outros, sou pierrô pagão. Tributo pago no balcão, duplicata em caixa, sou cidadão. Jungnianas personas que eclodem em meio a pensativos monólogos shakespearianos, sou pessoa, sou-me. Frente ao machadiano espelho, só, sou ninguém. Nada. Meu teatro é a vida encenada sem ensaio, sem roteiro, sem frases prontas e, pior, sem deixas, sem saber a hora certa de entrar em cena. Subjetivado réu, frente à platéia social, sou muitos, entre culpado e inocente.

 

O teatro é o oxigênio. É o oxigênio contido na água. É o oxigênio contido na água contida no aquário. É o oxigênio contido na água contida no aquário onde vive o peixe, que é dourado. É o oxigênio da água que mantém o dourado peixe vivo. O peixe vivo que vive no seu aquário-palco uma representação de ser: ser peixe dourado de estimação. O estimado peixe-ator, que desfila dourado em seu palco-aquário, repleto de pedrinhas coloridas e outros objetos de cena, representando para outro ser, enche de alegria e sentido a tola existência tediosa cotidiana de seu dono-platéia. Cercado de água contida de oxigênio-teatro, respira, alimenta-se, vive e representa o peixe-ator, dando sentido a feliz razão de ser ao seu dono-platéia, contemplando-o, com a arte de ser dourado.

 

O teatro é a mentira ensaiada. É a mentira que não fere. É a mentira gostosa de se ver e viver. E viver uma mentira que se gosta é viver uma verdade. O teatro é a verdade, que não passa de uma mentira ensaiada. Mentira que não fere. Que é gostosa de se ver e viver, porque ver e viver a verdade é bom, faz bem.


O teatro-vida é complicado. O choro sem ensaio dói. É um choro que punge verdadeiro, e que às vezes torcemos para que essa verdade seja uma mentira ensaiada. A mentira sem ensaio dói, fere. No teatro-vida, os aplausos são minguados, há mais apupos que tudo, decorrentes de sentimentos esmigalhados e poluídos no dia-a-dia pela ausência de amor... e ausência essa que, na maioria das vezes, erroneamente, é preenchida de matéria. As vezes é preciso deixar o teatro-vida de lado, descer do palco-mundo, despir-se do ator social que somos e sentar-se junto a platéia do teatro-arte, deixar o sonho fluir com a mentira ensaiada, cheia de calorosa verdade verdadeira, que transforma o choro-verdade que fere, em riso alegre que acolhe, meio a real sensação coletiva de felicidade. Na platéia do teatro-arte todos atuam com o papel de olhar e sentir. E eu, ator social destituído, quando desço do palco-mundo para ver atento o teatro-arte, que não só imita a vida, mas vai além dela, sinto uma alegria transcendente, que transborda o ser, e torço para que meu teatro-vida caminhe no mesmo sentido verdadeiro da representação que não fere. Vivendo esse coletivo momento feliz, farei de tudo para que no decorrer da minha peça, atuada no palco-mundo do teatro-vida, conquiste o doce beijo molhado infinito da suave e aveludada feminina boca desejada. E após o ato final, ao fecharem-se as cortinas e as luzes se acenderem, e ascenderem-me, eu receba e sinta os calorosos, acolhedores e recompensadores aplausos da platéia.

 

 

 

Texto publicado no blog Teatraria e no site do Itaú Cultural.

 

Publicado por AB Poeta às 18:45
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11 comentários:
De Maurici Tadeu a 30 de Junho de 2009 às 19:33
O teatro e a Vida

Que comentários posso fazer? Passagens intactas da arte imitando a arte, dela imitando a vida, que imita-se constantemente através do tédio de ser sempre a mesma Mas o teatro nos proporciona a possibilidade do novo, do lúdico, do inesperado e do inusitado!
Mas a proposta do texto também nos alegra: Mesmo que a vida siga, mesmo que eu siga como passageiro, transeunte...sou um ator social e tenho vários papéis a cumprir a explorar.
Com isso dou trégua à dolorosa ação oxidativa do respirar e do tédio da existência sartriana.
Sou-me, excelente maneira de ser. Ser ou não Ser, de qualquer sheakspeare anônimo pode ser simplesmente o verbo ser que pede um objeto, és o que? Sou-me! Maravilha.
Teatro é o palco e seus atores, a vida que se encena no palco da vida lá fora, com suas verdades, mentiras, meia-verdades entre outros discursos humanos, demasiadamente humanos, para citar Nietzsche.
Outro fato interessante é o dilema: Ator e personagem – quem é quem?
Foi um texto vivo, onde a experiência da existência humana não pode ser tão simplesmente inextricável ou inextricavelmente simples.
André, receba meus aplausos, que sou a platéia solitária do texto. Mas que diria: segui seus passos na alegria, na dor, no ensaio, no choro, na mentira e na verdade do texto.
Como você, imagino que ninguém possa representar-se sozinho. É necessário que existam outros para que nos representemos. Nos apresentemos. Nos façamos conhecer.
Este palco foi muito bem apresentado pela sua presença: Ator e personagem, juntos e sozinhos. Solidão e tristeza; multidão e felicidade. O dourado, as pedras e o atento contemplador.
Só fica uma questão: A verdade é um valor construído. Assim, em sua passagem...porque ver e viver a verdade é bom...diria, eu, que tudo que é construído por ser desconstruído. Por isso, antes do crivo e da crítica da moral êmica e ética, existe ainda uma descontinuidade que nos prega uma armaldilha. É preciso prudência com a verdade. Afinal, a pós-modernidade, para desconforto e desapontamento dos românticos, que me perdoem, nos traz esta perspectiva da fluidez, da verdade líquida, do fim das certezas, pelo menos por enquanto, que recruta prudência para não assolarmos nossos corações em mais algumas quimeras ilusionistas.

Abraços e parabéns pelo texto. E Viva o Teatro!
De AB Poeta a 19 de Setembro de 2012 às 04:16
Mauricio Tadeu, demorei muito para responder seu, mais que magnífico, comentário!

Sou muito grato a atenção que deu ao texto e ao, mais uma vez, valio comentário.

Com atraso, mais muito grato, obrigado!

Abrçs

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