Sonhei um dia em ser rei
Por sonhar que ganhava a guerra
acordei, guerreei e venci!
Escrevi meu nome numa era
Não importa quem matei
nem quantas vezes nessa terra
fiz guerras quem nem lutei
pois eu sonho e outro esmera
dá o sangue, luta feito fera
pelo simples sonho que sonhei
Mas um dia não mais acordarei
e esse povo que nunca desperta
dará o sangue, fará a guerra
e morrerá pelo sonho de outro rei
tempestade em copo d’água
tormenta em corpo mágoa
cada recipiente tem sua borda
em algum momento esgota
cada um sabe a gota
que lhe transborda
A pandemia trará consciência
às pessoas, uma novas atitude
disseram os otimistas
apesar da humana insipiência
O pensamento positivo ilude:
nem acabou a pestilência
e o “novo normal”, pura fantasia
voltou a ser a velha mania
Muita coisa retrocedeu, é vero
voltamos para a estaca zero!
De certo nessa confusão
é que a maioria lavou as mãos
Minha fé é do tamanho
da pepita que desenterra
e quanto mais dessa terra jorre
mais ao céu se sobe a torre
Chamem arquitetos, escultores
para edificar do barro o barroco
teremos muitos santos do pau oco
pecados a expiar dos pecadores
Traga a mão obra que for preciso
arrastem as correntes por mar a fora
ao luso rei o quinto indenizo
aos escravizados a palmatória