Se não há corpo, não há crime
Se não há crime, não há julgamento
Sem julgamento, não há sentença
Sem sentença, não há pena
Se não há pena, não há culpa
Se não há culpa, não há dívida
Se não há dívida, não há crença
Por trás do culto
de todo rito
há algo oculto
existe um mito
que o inculto
em seu conflito
paga o tributo
a um poluto
Um insulto
ao bendito
do ventre fruto
que do púlpito
observa hirto
Fé de luto
E assim disse satanás, irado:
"quem for cristão que vá à missa!"
Mas ficar em casa é a premissa
e aos aglomerados e sua cobiça
digo malgrado: "vade-retro infectado!"
Onipresença, só da ignorância
tomada pela ganância, ausência
de inteligência e total imprudência
de gente que age sem consciência
De todos esses eu quero é distância
tem ruído em nossa comunicação
coisas do convívio
e entre o ouvido e o coração
a coisa que duvido
é que não tenha solução
Fé não se garante por decreto
decrépitos querem seu dinheiro
Reza não precisa de pastor por perto
só para cobrarem, lá vem o obreiro
Do mesmo jeito, decreto não impede fé
decrépitos querem é sua caveira
aglomerados, sentados ou em pé
no templo, igreja, garantindo sua feira
Não há fé, só um tipo de crença cega
Independente de credo, o povo peca
falta a educação, falta usar a razão
falta caráter a quem o poder emprega
I
as águas de março
sem promessa de vida
não teve vacina
II
as flores murcham
no jardim do coveiro
bem-ou-mal-me-quer
III
mais um que se vai
negou a realidade
a morte não mente