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a fome de justiça
aguça a sede de vingança
como nenhuma
se alcança
quem agoniza é a esperança
de barriga vazia
O agro é vida
é pop, é arma
é armação
O agro é grilagem
é desterro, é poder
é inflação
O agro é dólar
é miséria, é lobby
é extorsão
O agro é fome
é tóxico, é golpe
é escravidão
O agro é morte
viver cidade
violenta velocidade
ver a cidade aparente
ser o vírus e a semente
fugaz ser
a serpente
gás do caos corrente
lentamente
trânsito em transe
carros tragados
transeuntes
cigarros lábios lentes
lenta mente ácida
árida
fragmenta mente
cor rente
de mente
fuga cidade
lá tente
Tietê quem
te viu não quer
te ver
à margem
sem ramagem
sem ramais
marginais nada
fluviais
no leito
sem porto
sem jeito
rio quase morto
No céu de São Paulo
nuvens chumbo prenunciam
a queda
que arrasta tudo alaga:
esgotos gastos
coletivos esgotados
casas ocas poços
restos fossas pastos
fossos poças
paços largos
logradouros
lugares comuns
Lago imenso lodo
onde Tristeza e Tragédia nadam nuas
sincronizadas
entre ratos-golfinhos
dejetos restos
e rostos
O trovão grita
rasga o ar:
Corre! A água é suja
imunda inunda
tua hora vai chegar
A sinfonia continua
no mesmo (des)compasso
até que a última gota
caia
Atenção!
Amarelo fome
O sinal fecha e abrem-se as cortinas
Equilibrado num corpo seco sujo
malabarisa-se
come pouco e cospe fogo
a atração que nunca foi a principal.
O homem bala (de hortelã)
voa por entre o aço industrializado
Todos olham, acompanham e fingem indiferença
carregando no íntimo espanto, medo e pessimismo.
Correndo, na velocidade estridente dos sons
ele volta à posição inicial
alçando mais alto um próximo vôo
Flores espirram água
pedintes rodam as rodas ralas entre as rodas negras
O picadeiro urbano fervilha
enquanto a tristeza do palhaço transita
na orla pavimentada.
Um sinal verdeja
a platéia sem graça segue sagaz
em passo apressado
Acelera a carroça e sopra fumaça na moça insossa que passa
enquanto feroz
a fera faminta fenece no asfalto
frio
Já não rio mais...
porque em teu curso correm negras minhas sobras
e em teu leito sereias mudas e perdidas
desencantam famintos estivadores de passagem
que sonham com suas ilhas
Marginais roubaram tuas plumas e deixaram-te
com a pior fantasia
Veia exposta que sangra restos
cadáver decúbito eternamente em decomposição
Tua beira escura e densa produz
um Narciso inverso
que se irrita por saber que os reflexos
que lhe mostra são
as ruínas de seus desejos
Difícil encarar teus olhos verdes-fossa
que tristes me suplicam pureza
Eu
Deus eterno e onipotente núcleo do tempo
a ti ignoro
pois sei que fiz de você minha
imagem e semelhança